22 de janeiro de 2025 15:17

Traficante do PCC foi recebido na Rota para “delatar” PMs corruptos

Delação informal ocorreu em outubro de 2021 em batalhão da Rota. Traficante tornou-se testemunha protegida e inimigo do PCC e dos PMs

São Paulo — Um traficante do Primeiro Comando da Capital (PCC), que hoje é testemunha protegida, foi o responsável por delatar informalmente como policiais da Rota recebiam milhões dos líderes da facção para vazar informações sigilosas, permitindo que eles escapassem de operações policiais.
Em outubro de 2021, o traficante procurou o setor de inteligência da Rota e foi recebido no batalhão da corporação por oficiais e um promotor do Gaeco, grupo especializado no combate ao crime organizado do Ministério Público de São Paulo (MPSP).
Na ocasião, ele deu detalhes sobre quem seriam as principais lideranças do PCC beneficiadas. Entre elas, Silvio Luiz Ferreira, o Cebola; Marcos Roberto de Almeida, o Tuta; Rafael Maeda Pires, o Japa; Cláudio Marcos de Almeida, Django; Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta. O grupo pertencia à célula da facção ligada à empresa de ônibus UpBus, que seria usada para lavar dinheiro.

Foi na ocasião que o Gaeco descobriu como Tuta, então número um do PCC fora do sistema carcerário, havia escapado da Operação Sharks, deflagrada cerca de um ano antes, em setembro de 2020, contra movimentações da cúpula da facção.

Na ocasião, PMs da Rota ficaram encarregados de cumprir o mandado de prisão de Tuta. Para a surpresa dos promotores, no entanto, o chefão do PCC não foi localizado no endereço previsto.

Inicialmente, houve a suspeita de que alguém do prédio do criminoso poderia ter vazado a informação. Por meio do delator informal, as autoridades descobriram que se tratava de um vazamento.

Ele inclusive exibiu um áudio em que Tuta conversa com outro criminoso e diz: “O pessoal da R [suposta referência à Rota] salvou minha vida na Sharks”. O líder do PCC afirma que teria pagado R$ 5 milhões pelo vazamento, valor dividido em R$ 2 milhões de entrada e o restante parcelado.

As investigações apontam que, para além de pagamentos por informações específicas, os integrantes da facção pagavam uma mensalidade de R$ 600 mil aos PMs da Rota, que integravam setor de inteligência da corporação.

Entre as informações exigidas pelos criminosos, estava o endereço do traficante que decidiu delatar o esquema. O paradeiro dele, no entanto, nunca foi descoberto pelos PMs.

Instauração do inquérito

O inquérito policial militar para apurar a conduta dos PMs da Rota foi instaurado em 17 de outubro do ano passado, pelo corregedor geral da PM, Fábio Sergio do Amaral. No ofício, a tenente encarregada pela investigação afirma que a apuração terá como base uma denúncia anônima.

O documento não especifica quando teria sido feita a suposta denúncia anônima, mas cita um email enviado por Lincoln Gakiya à Corregedoria sobre o que parece ser uma outra denúncia, que teria sido recebida em 21 de janeiro de 2022, sobre policiais corruptos na Rota e reuniões a respeito de faccionados executados.

Comandantes da Polícia Militar afirmam, em reservado, que o Ministério Público teria demorado a formalizar as denúncias feitas pelo delator.

PMs citados

De acordo com a Corregedoria da Polícia Militar, o esquema de vazamento de informações em benefício do PCC era supervisionado pelo capitão Raphael Alves Mendonça, que seria amigo pessoal de diversos líderes da facção. Ele teria sido o responsável por indicar os demais PMs envolvidos no esquema para trabalhar no setor de inteligência da Rota.

Também são citados pelo menos sete PMs no inquérito policial militar. As condutas deles não são detalhadas.

O capitão Raphael Alves Mendonça atuou na Rota entre janeiro de 2016 e setembro de 2022. No período, foi comandante de pelotão, chefe da Agência de Inteligência e da Sessão de Polícia Judiciária.

Depois, ele foi transferido para o Comando de Policiamento de Choque para exercer a função de chefe da Agência Regional. Em fevereiro do ano passado, migrou para a Assessoria Policial Militar da Prefeitura de São Paulo.

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